sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Pedro, um jovem com pinta.

Pe. José Miguel Pereira
director@diariodominho.pt

Pedro da Pinta – assim era conhecido popularmente um dos três bombeiros anteontem sepultados no concelho de Esposende. Custa ver partir alguém que vimos crescer – era meu vizinho –, com quem partilhámos muitas alegrias e algumas tristezas e com quem muito se aprende(u).
As circunstâncias da sua morte são bem conhecidas: no passado domingo, pouco antes de Portugal parar para conhecer os resultados das Eleições Legislativas, o concelho de Esposende – sobretudo, a população desta cidade, de Marinhas e de Belinho, minha terra natal – ficou praticamente parado com a morte destes jovens.
A caminho de Fafe, para apagar um incêndio, o rebentamento de um pneu atirou uma viatura dos bombeiros de Esposende para o fundo de um viaduto. O Pedro da Pinta perdeu a vida, mas a sua memória dificilmente se perderá. Porque era “da pinta”, uma família respeitada porque respeitadora, e, acima de tudo, porque “tinha muita pinta”, como diz o povo – as suas qualidades humanas não deixavam ninguém indiferente.
Numa sociedade egoísta, sempre a correr e mais inclinada para a prática do mal, como atestam os incêndios sem explicações quanto à sua origem, o Pedro “acelerava” para estar onde sentia ser útil e para “arrastar” os amigos para, como ele, fazer bem. Era assim nas instituições civis e também na Igreja, sobretudo através do grupo de jovens e da catequese. Nos bombeiros, era o especialista em artes gráficas – a sua área profissional. De resto, “Pedro da .” era a sua marca pessoal, como vi, em Agosto passado, no programa das festas do padroeiro de Belinho.
Onde ele estava, e parecia ter tempo para estar em tudo sem estar a mais, dificilmente se podia estar triste. Era um autêntico brincalhão! Por isso é que agora custa ainda mais vê-lo partir. Porque era precisamente nos momentos mais dolorosos da vida, quando parece que tudo nos foge, que a sua presença dava segurança e conforto. Marcava. Tinha pinta!
Resta-nos, agora, a sua lição de vida. Coincidência ou não, foi sepultado no dia em que a igreja celebrou a festa dos arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel. Arcanjo significa portador de uma mensagem grande, grande mensageiro. Da vida terrena do Pedro, que foi curta – e certamente da vida dos outros bombeiros falecidos –, fica precisamente o compromisso de, pelo menos, sermos tão empenhados como ele(s) na vida quotidiana. Para que, mesmo sem o sermos, se cumpra o lema dos bombeiros: Vida por vida.

(Publicado no DM do dia 01.10.2009)

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